AS PEDRAS NÃO FALAM, MAS ROCK`IN ROLL

Por Thiago Alixandre

Este texto tem como objetivo evitar que uma das iniciativas tomadas pelo Coletivo O¹², o Projeto “Dança na Pedreira”, realizado em novembro de 2011, seja apagada da história de Votorantim.

Pra refrescar a memória do caro leitor: o Coletivo O¹² idealizou e desenvolveu o Projeto “Dança na Pedreira”, que foi realizado pelo SESC-SOROCABA no segundo semestre de 2011, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente de Votorantim e com o apoio do SESI-VOTORANTIM. Tudo partiu do nosso interesse de reativar a história desse espaço, que há mais de 20 anos estava desativado.

Para promover a sua (re)apropriação, elaboramos uma programação cultural que contou com espetáculos de dança, workshop, lançamento de livro, concerto musical do músico votorantinense Adriano Costa, e as presenças da professora Fabiana Dultra Britto, da Universidade Federal da Bahia, e da urbanista Ana Carla Fonseca Reis, consultora internacional das Nações Unidas.

Com tais ações tínhamos como meta valorizar os cenários e talentos locais e atrair a atenção do poder público e privado para a Pedreira como um potencial polo criativo e cultural da cidade.

O evento foi um sucesso, pois despertou uma discussão adormecida sobre o espaço da pedreira. Para continuar, o Coletivo O¹² propôs outras ações no mesmo espaço. Em dezembro de 2011, aconteceu o evento “Piquenique na Pedreira” e, em fevereiro de 2012 a Pedreira se tornou cenário de um vídeodança.

Todas as ações foram realizadas pelo Coletivo O¹² com o intuito de valorizar a Pedreira, porque são as políticas de bom uso dos espaços públicos que promovem a sua sustentabilidade.

Na ultima sexta-feira, dia 16/03, aconteceu lá o show da  banda holandesa Focus. O evento foi um outro tipo de sucesso, aquele que se mede somente pelos números. A vinda da atração foi intermediada pelos produtores culturais Eliton Tomasi e Vinicius Tomasi e o evento foi realizado pela Prefeitura Municipal de Votorantim por meio da Secretaria de Cultura, segundo o release oficial de divulgação da SECOM (Secretaria de Comunicação de Votorantim).

Pode parecer que, então, a missão do Coletivo O¹² foi cumprida, pois a Pedreira foi agora, de fato, “descoberta” por mais cidadãos. No entanto, a nossa é uma missão comprida. Basta voltar lá para perceber a lamentável situação em que o espaço se encontra após o evento. O despreparo para o seu uso revela que ainda há muito a fazer antes de uma produtiva e auto-sustentável re-apropriação. A Pedreira está coberta por lixo e várias de suas árvores foram cortadas.

Mas há também outro dado, muito relevante, a ser considerado. O release oficial distribuído pela SECOM informa: “De acordo com a Secretaria de Cultura, esta é uma oportunidade de resgatar o espaço da Pedreira do Jardim Icatu, que há mais de 20 anos não era usado para eventos.”

Por que a Secretaria de Comunicação reescreve a história de Votorantim, apagando dela os acontecimentos recentes, registrados inclusive pelo único jornal da cidade?

Por que oculta a informação de que a Pedreira já vinha sendo revigorada pelas ações conjuntas do SESC-SOROCABA, Secretaria de Meio Ambiente e Coletivo O¹²?

O mesmo texto oficial da SECOM reitera: “A Pedreira do Jardim Icatu, em Votorantim, é confirmada como um novo espaço para eventos na cidade, segundo a Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, resultado do grande show internacional da Banda Focus”

É lamentável que a atual política esteja ainda escravizada por um olhar colonizado, aquele olhar que só se permite ser ofuscado pelo brilho das estrelas internacionais e por isso é cego e incapaz de identificar e reconhecer os esforços dos talentos locais.

As fotos abaixo são a melhor tradução do legado que a banda holandesa Focus deixou na Pedreira em Votorantim. 

Thiago Alixandre é co-fundador do Coletivo O¹² na cidade de Votorantim - SP, bailarino e pesquisador de dança, integrante do CED (Centro de estudos em dança) na PUC-SP, produtor executivo do SPFW desde 2009, e desenvolve pesquisas artísticas em torno de conquista e prática de autonomia em sistemas vivos. Seu foco de atuação se detém aos processos coletivos e colaborativos de produção de conhecimento, ao desenvolvimento de estratégias criativas para a sustentabilidade e comunicabilidade da arte contemporânea e ao estudo do conceito de Economia Criativa e desenvolviemnto sustentável na cultura.