Crítica no Jornal Estado de Minas.

domingo, 29 de maio de 2011


Política poética



Quando se desprendem as partes, do coletivo paulista O12, chega a Belo Horizonte





Por Marcello Castilho Avellar


O coletivo O12, de Votorantim (SP), apresenta pela primeira vez em Belo Horizonte, domingo e segunda-feira, sua ação-espetáculo Quando se desprendem as partes. O fato, em si, é boa demonstração do quanto o mercado de dança em Minas vem sendo descentralizado: cidades como Uberlândia e Ipatinga já assistiram à obra em outras temporadas.

Quando se desprendem as partes é caso raro no panorama da dança brasileira, uma obra em que pesquisa do movimento e biografia do grupo que a realiza se misturam de tal modo que não podem ser separadas.


O O12 virou uma espécie de grupo favorito de boa parte dos que atuam na teoria e na prática da dança contemporânea no Brasil exatamente por coerências como a mencionada assim. Nasceu como dissidência de outro coletivo, o Quadra – Pessoas e Ideias, também de Votorantim. E a dissidência surgiu pelo sentimento, dos que deixavam o Quadra, de que não estavam praticando o suficiente o conceito que mais debatiam ali – autonomia.

A “independência” do O12 foi um manifesto de autonomia. E Quando se desprendem as partes é a versão cênica desse manifesto.


A palavra “autonomia” se tornou uma das varinhas-de-condão da arte contemporânea, principalmente na dança. Nem sempre, contudo, há coerência entre o discurso sobre ela, a forma como grupos e companhias que constróem esse discurso se organizam, ou as criações que dele resultam.
Quando se desprendem as partes é exceção, começando da estrutura geral (a coreografia se desenvolve a partir do conjunto, de um caos primordial em que os intérpretes quase parecem indiferenciados, rumo à descoberta da individualidade) é exemplo raro daquela coerência.


O melhor é que não é apenas esse valor político o mérito de Quando se desprendem as partes. Para propor aos espectadores um debate cênico sobre suas inquietações a respeito de modos de organizar, pensar, agir, os intérpretes do O12 construíram uma poética em que isso não é apenas tema ou conteúdo, mas forma.
Em cena, verificamos o resultado de uma investigação sobre liberdade e dependência entre corpos, entre partes de corpos, o choque entre grupo e indivíduo, vontade individual e ação coletiva.
Quando se desprendem as partes não é apenas espetáculo, mas discurso político em forma de dança, discurso e criação, felizmente, inseparáveis.



Quando se desprendem as partes

Ação-espetáculo do Coletivo O12, de Votorantim (SP), no Espaço Ambiente, Rua Grão Pará, 185, Santa Efigênia, domingo, às 20h. Ingressos: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia). Segunda-feira, às 11h, no Auditório da Reitoria da UFMG, câmpus Pampulha da UFMG, Avenida Antônio Carlos, 6.627, com entrada franca. Também na segunda-feira, às 14h, no Espaço Ambiente, haverá workshop com o grupo – inscrições gratuitas pelo e-mail
workshop@coletivoo12.com.br.

Comments

2 Responses to “Crítica no Jornal Estado de Minas.”
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ari disse...

quanto orgulho de ser parte de tudo isso!! =)

a critica ficou linda! a emoção só não foi maior pq não corri até a banca pra comprar o jornal, hehehe...

30 de maio de 2011 às 20:25
Thiago Alixandre disse...

Orgulho Ari, é essa mesmo a palavra.

Se a moeda do futuro é a reputação, acho que estamos MESMO cuidando da nossa história.

Como é poderoso o valor né? Todo o desvalor do passado enterrado, morre de esqueciemnto e as palavras de valor nos dão futuros desejáveis.

Que orgulho mesmo, seguir na direção da vida e deixar enterrado quem da morte se nutre.

bjinhos biófilos e hedônicos pro mundo a nossa volta.

2 de junho de 2011 às 13:09