Coletivo de dança cria associação de apoiadores

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Objetivo do grupo é garantir seu sustento financeiro, buscando a reflexão do público para uma carência da sociedade

Em uma realidade em que o exercício da dança se torna quase impossível, com falta de incentivo e um público pouco consolidado – e acostumado a consumir cultura apenas gratuitamente-, o pessoal do Coletivo o12 optou por criar sua própria associação. Já devidamente estabelecida juridicamente há alguns meses, a Associação dos Amigos do o12 (Aao12) visa o sustento financeiro do grupo.
Segundo os integrantes do o12, as apresentações em festivais e o projeto de intervenções urbanas, o “Corpometáfora”, tem tido uma proporção grande, porém não tem possibilitado a sustentabilidade do grupo. Por meio da associação, eles esperam por pessoas, interessadas de alguma forma na produção de dança na cidade, ou, em um sentido mais amplo, pela sua arte e cultura, que se associem ao grupo e contribuam mensalmente com valores a partir de R$5,00. Thiago Alixandre, um dos integrantes do grupo, acredita que, mais do que uma forma de manter seus projetos, a iniciativa é uma “atitude política”, que propõe um questionamento à sociedade: “A pergunta que nós fazemos a cada pessoa é a seguinte: Quanto vale a dança; a cultura; a arte? Qual é o seu interesse nisso?”, argumenta o bailarino.
Alixandre aponta alguns vícios de uma cultura que desvaloriza a arte, em especial a dança. “Acho que isso também é um alerta para a comunidade. O artista também é profissional. Também tem suas necessidades. Não é um ser que se move por aí a partir de inspirações”, ironiza, entre risos dos colegas. Eles destacam a inexistência de políticas publicas para manter o desenvolvimento da dança, uma situação ainda mais grave em um momento de crise financeira, em que o recolhimento de impostos tem diminuído.
Em uma cultura em que a arte é essencialmente um produto, a dança se torna ainda mais marginalizada. “O cara está acostumado a pagar por uma revista, a pagar para ir ao cinema. A dança não é alguma coisa que a pessoa compra e leva para casa. É um trabalho mais abstrato”, observa Alixandre.
Atualmente o grupo conta com apoio das secretarias municipais de Cultura, na realização do projeto “Corpometáfora”, e de Meio Ambiente, que cedeu um salão no Parque do Matão para os ensaios, há cerca de dois meses.

O inicio
A ideia da AAo12 surgiu em março. “Convidamos 20 pessoas a se associar. Foi um teste”, contam os artistas. Hoje, a entidade tem 12 associados – metade são os próprios integrantes do grupo; metade são pesquisadores e críticos de dança dos estados de São Paulo, Recife e Bahia. “As pessoas afins vão se sentir mais tocadas, obviamente”, observa Thiago Alixandre.
Mas a expectativa do grupo é boa, a ponto de eles esperarem cativar não somente as pessoas relacionadas à dança. “Nós temos uma relação forte com o comércio”, acrescenta Preta Ribeiro.
Segundo eles, formas “criativas” de sustentabilidade da arte e da produção da dança, principalmente, têm sido discutidas em diversos fóruns pelo país. Foi a partir daí que tiveram a ideia da associação. “Não queremos caridade. Nossa associação é uma forma de economia criativa”, diz Thiago Alixandre.

Apoio à classe artistica
A associação foi criada também com o intuito de auxiliar outros artistas da comunidade que se associarem ao grupo. Os artistas associados podem, por exemplo, emitir nota fiscal com a inscrição da entidade nos lugares em que prestarem serviços. Nestes casos, explicam os bailarinos, o artista não necessariamente precisa contribuir com depósitos mensais.

Retorno
Os autores da iniciativa não deixam de destacar outro ponto: a autonomia que eles vão ter para aplicar o dinheiro arrecadado é muito interessante. Mas eles garantem que o retorno ao associado que colaborar com o grupo será garantido. Prestações de contas com o público serão feitas semestralmente em encontros com os associados e demais interessados.

Continuidade
O pessoal do o12 argumenta que a criação da associação de apoiadores se faz necessária para que as atividades do grupo possam continuar. Hoje com seis pessoas, o coletivo, quando foi fundado, há cerca de um ano e meio, tinha 12 integrantes. “Alguns tiveram que sair justamente pela falta de retorno. Saíram para trabalhar em fábricas, por exemplo”, explica Thiago Alixandre.
Mais informações sobre a entidade podem ser obtidas no blog odoze.blogspot.com ou pelo e-mail o.doze@hotmail.com

Matéria - Mateus Casagrande (Folha de Votorantim, 23/07/2009)

Comments

No response to “Coletivo de dança cria associação de apoiadores”
Post a Comment | Postar comentários (Atom)